O dólar comercial fechou com alta de 0,23%, cotado a R$ 5,498, refletindo dois fatores principais:
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Avanço das tensões geopolíticas, especialmente os confrontos diretos entre Israel e Irã, que aumentam a aversão global ao risco, levando investidores a buscar ativos de segurança como o dólar (flight to quality).
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Risco fiscal doméstico, impulsionado pela decisão da Câmara dos Deputados de acelerar a derrubada do decreto que elevava o IOF. Isso acende um alerta sobre o compromisso do governo com o ajuste fiscal, gerando pressão sobre ativos brasileiros.
Apesar disso, a moeda americana se manteve abaixo dos R$ 5,50 na maior parte do pregão, indicando que o real ainda sustenta fundamentos razoáveis, sustentado por termos de troca favoráveis (exportações de commodities) e entrada de fluxo estrangeiro recente.
O Ibovespa recuou 0,30%, aos 138.840 pontos, após ter apresentado forte alta na sessão anterior. A realização de lucros, combinada com os riscos fiscais internos e a tensão externa, motivou a queda.
Por outro lado, Petrobras (PETR4) sustentou parte do índice, com alta de 2,2%, reflexo da disparada nos preços do petróleo, decorrente do agravamento dos conflitos no Oriente Médio, que ameaçam o fornecimento global da commodity.
? Impacto da Guerra Israel-Irã
O conflito armado direto entre Israel e Irã, um evento de altíssima gravidade geopolítica, gera três efeitos principais nos mercados:
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Alta no preço do petróleo, dado que o Oriente Médio concentra cerca de 30% da produção global. A escalada ameaça cadeias de suprimento e pressiona custos logísticos e energéticos.
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Aumento na aversão ao risco, com fuga de capitais de mercados emergentes para ativos considerados seguros (dólar, ouro e títulos do Tesouro americano).
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Volatilidade nos mercados globais, tanto em bolsas como em moedas, especialmente nas de países mais expostos à percepção de risco, como Brasil, Turquia e México.
Cenário Interno: Crise Fiscal e Instabilidade Política
A decisão da Câmara em acelerar a votação para derrubar o decreto do IOF evidencia um conflito claro entre o Executivo e o Legislativo. Este movimento tem três implicações diretas:
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Enfraquecimento da estratégia fiscal do governo, que busca aumentar receitas para cumprir as metas de déficit zero ou próximo disso. A derrubada do decreto reduz a arrecadação esperada.
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Aumento da percepção de risco político, especialmente pelo atrito entre o governo federal e o Congresso, acentuado pelo atraso no pagamento de emendas parlamentares e pelo debate em torno de pautas sensíveis (como a CPMI do INSS e vetos presidenciais).
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Pressão sobre os ativos brasileiros, com o real depreciando e a bolsa se ajustando negativamente, antecipando dificuldades futuras na governabilidade e na condução da política econômica.
? Juros e Expectativas de Política Monetária
O mercado também opera com forte expectativa para a chamada "Super Quarta", que trará decisões tanto do Copom (Brasil) quanto do Federal Reserve (EUA).
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Brasil: O debate interno ainda está dividido. A Selic, atualmente em 14,75% a.a., pode se manter estável diante da piora no risco fiscal e cambial, para evitar uma pressão adicional sobre o câmbio e a inflação. Contudo, o mercado estava precificando o fim do ciclo de alta, mas o ambiente externo e interno pode mudar isso.
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EUA: A expectativa é praticamente consenso de manutenção dos juros entre 4,25% e 4,5%, patamar elevado para padrões americanos, refletindo a necessidade de combater uma inflação que segue resistente.
A manutenção dos juros altos nos EUA fortalece o dólar globalmente, o que por sua vez gera pressão adicional sobre moedas emergentes, como o real.
? Riscos no Radar
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Geopolítica: Qualquer escalada no conflito entre Israel e Irã pode levar o petróleo acima de US$ 100, o que reacende temores inflacionários globais e pressiona os bancos centrais a manter juros elevados por mais tempo.
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Fiscal doméstico: A derrota do governo na questão do IOF pode ser apenas o início de uma série de embates no Congresso, comprometendo a credibilidade do arcabouço fiscal.
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Cenário político: A leitura de pedidos de CPMI e vetos pode agravar a tensão entre Executivo e Legislativo, especialmente se houver resistência do governo em atender demandas do Congresso.
? Síntese da Análise
Indicador |
Variação |
Interpretação |
Dólar Comercial |
+0,23% |
Alta pela tensão externa e risco fiscal interno |
Dólar Turismo |
+0,15% |
Pressionado pela aversão a risco |
Ibovespa |
-0,30% |
Realização de lucros e preocupação fiscal |
PETR4 |
+2,2% |
Alta do petróleo sustenta a Petrobras |
Juros Selic |
14,75% |
Decisão aguardada; risco de manutenção alta |
Juros Fed (EUA) |
4,25%-4,5% |
Tendência de manutenção |
? Conclusão Técnica
O mercado brasileiro se encontra em um momento de elevada sensibilidade, tanto pelo cenário externo (guerra no Oriente Médio) quanto pelo interno (instabilidade fiscal e política).
Se o governo não conseguir recompor sua base no Congresso e garantir o cumprimento do arcabouço fiscal, o real pode ultrapassar R$ 5,50 de forma consistente, e o Ibovespa pode perder o suporte dos 138 mil pontos, voltando para a faixa de 135 mil ou até menos.
Por outro lado, commodities como petróleo e minério podem servir como proteção parcial para ativos brasileiros, especialmente empresas exportadoras.
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